Conto – O Encontro Parte 1/3

Cena de crime

– Oi amiga! Tudo bom? Você nem sabe da nova! Disse Ana ao telefone com entusiasmo. 

– Diz mulher, já curiosa – respondeu Raquel. 

– Então, tu não sabe. Instalei o Tinder há algumas semanas e conheci um gato!  

Aahhhh Sua safadaaa! Cortou Raquel em gritos. Manda uma foto dele para eu analisar – Disse em tom jocoso. 

– Eu não mulher, você é muito fura olho – Disse Ana em tom de brincadeira – zoando, te mando já. Estou me arrumando e já saio, combinei de encontrar com ele em um bar na Varjota. 

– Você está tão avançadinha Ana. Leva lingerie nova gata. 

– Me respeita mulher. Acha que eu saio dando assim? Sou tu não Retrocou Ana com mais risos. 

– Hum, seiii. Pois eu vou estudar que eu tenho trabalho para entregar amanhã. 

Aff mulher, me poupe. Amanhã é sábado. Mas boa sorte no seu trabalho – Disse com uma voz zombeteira. 

– Obrigada. Cuidado com o rapaz lá, pode ser um psicopata Raquel se despediu e desligou.  

   Psicopata? Essa doida tá é com inveja. Ana se sentia radiante, se sentia tão alegre e leve que parecia que voar no seu quarto. O som eletrônico emanava da caixa de som do seu computador embalava sua preparação para o encontro. Ela usaria lingerie nova, lógico. Mesmo que não saísse pensando nisso, estaria preparada. Escolheu uma blusa preta levemente decotada, para não parecer atirada, uma saia não tão curta da sorte. Estava ansiosa. Mais alguns retoques na maquiagem e estava pronta para sair. Ana estava se sentindo especialmente linda, diferente de como sempre se achou. Ainda estava encantada com os elogios que lera no chat. Ana era gordinha, sua estatura era baixa, pele branca e sardenta, cabelos negros que na ocasião estavam soltos acima do ombro, seus olhos eram castanhos e alegres. 

   Ao passar pela porta da sala, Ana se despediu da mãe dizendo que sairia com a Raquel. Como era de costume, sua mãe apenas assentiu com a cabeça enquanto via novela. Falou o de sempre: Cuidado! Que Deus te proteja. Ela Pegou o carro e foi ao seu destino. A garota nem imaginava o que iria acontecer. 

   Chegou rápido ao local, nove horas e alguns minutos. O restaurante não estava lotado, haviam apenas algumas mesas. Robson estava lá, bem apresentado. Lindo como nas fotos, o que foi um grande alívio. Seus cabelos eram cacheados e loiros, sua pele tinha um tom amarelo, seu sorriso era adorável. Estava vestido com uma blusa gola polo verde, calça preta apertada e um sapatênis cor de terra. Ele se levantou e após dois beijos no rosto, puxou sua cadeira. Humm que cavalheiro! Pensou. Conversaram amenidades por horas. Coisas como: O que viu em mim? O que você achou? Por que está solteiro? Faz o quê da vida? Mora por onde? Sério, minha tia mora próximo… Ana bebia lentamente seu drinque. Era vodca com kiwi. Robson bebida cerveja, bebia um pouco rápido, não parecia um apreciador daquela bebida.  

   Já passava da meia noite e a garota bebia seu quarto drinque, era acostumada, estava longe de ficar bêbada, não queria causar má impressão. Estava achando o rapaz perfeito, ele lhe parecia igualmente interessado. Sentia-se segura, a conversa fluía tranquilamente. Tudo ia bem até sua vista ficar levemente turva. Ela se espantou, a bebida não podia tê-la pego. Já havia bebido muito mais em outras ocasiões e mesmo assim havia ficado sóbria. Passou em sua cabeça um pensamento muito rápido de que talvez o príncipe tivesse colocado algo no seu drinque nas incontáveis vezes que ela saiu para ir ao banheiro. Talvez só esteja passando mal ou a bebida era adulterada. Tentou se tranquilizar-se.  

– Você está bem? – A voz do rapaz focou-a de volta para a mesa. 

– Sim, só preciso ir ao banheiro – Disse se levantando. Em pé, sentiu uma vertigem, a gravidade parecia puxar seu corpo com força para o chão, o restaurante rodava em torno de si. A vista focava e desfocava no ambiente. Seu coração começou a acelerar, sentia que ia perder o controle. Andou em direção ao banheiro se controlando ao máximo para parecer inabalada. Ouvia as vozes em câmera lenta, as risadas ao fundo das pessoas em outras mesas pareciam estar dentro da sua cabeça, suas pernas pareciam estar amarradas a âncoras. Continuava seguindo firme, segurando-se para não cair ou dobrar o joelho. Só precisava chegar ao banheiro feminino e ligar para Raquel. Ela estaria segura lá. A porta com o desenho de um chapéu feminino estava cada vez mais próxima. Mal lia “Ladies” escrito na porta abaixo do chapéu feminino. Respirava profundamente como se aquilo ajudasse a dissipar o efeito daquela droga que provavelmente havia ingerido. Faltava aproximadamente um metro, continuava firme, cada passada com muita cautela. O peso do seu corpo estava cada vez maior, parecia ser sugada para o chão. Suas pálpebras imploravam para fechar-se, sentia seduzida a ceder a sonolência que invadia seu corpo. Prestes a chegar na porta, seu joelho se dobra involuntariamente e cai de joelhos no chão. Um garçom próximo parou e ofereceu ajuda. Não conseguia falar, sua língua parecia sem controle. Abriu a boca, mas som nenhum foi emitido. 

Percebeu alguém chegar por trás. Sentiu a força a levantar de um modo gentil e colocá-la de pé. Ouviu uma voz poluída de outros sons do ambiente, mas entendeu as palavras: 

– Não precisa amigo, minha namorada bebeu demais. Amor, vamos para casa agora – disse olhando para ela.  

Pode me trazer a conta Robson apoiou o corpo dela no seu, passou o braço flácido da moça sobre seus ombros. Psicopata! A Raquel estava certa. Foi o pensamento que invadiu sua cabeça naquele momento antes de desmaiar. 

   Nãaaaaoooooooo!!!! Foi o grito mudo que a garota não conseguiu emitir quando acordou sendo posta no banco do carro de seu agressor. Estava desesperada, seu coração batia descompassado.  Esticou o braço com muita dificuldade tentando abrir a porta pela maçaneta interna. 

– Calma meu amor, você não vai fugir de mim – disse ele em tom de deboche 

Continua…

Garoto Perdido

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