Conto – O Encontro Parte 3/3

O encontro parte 3

– O que aconteceu rapazes? Por que entraram em uma via dessas rápido assim? A preferência era minha – Robson fala em um tom amigável ainda checando o prejuízo. 

 Meio sem jeito, o rapaz de cabelos lambidos ainda trêmulo fala: 

– Desculpa senhor, achávamos que dava tempo. O senhor veio rápido. De repente já estava muito perto e eu não tive como fazer mais nada. 

 Ainda sustentando um sorriso forçado, o sequestrador fala: 

 – Tudo bem. Vocês devem vir de alguma festa. Devem ter bebido um pouco. É normal esses erros de cálculos. Você me passa seu telefone, eu tiro uma foto da sua placa e amanhã resolvemos isso em alguma oficina. Você tem seguro né? 

 O rapaz se espanta com a previsão correta da festa. Depois pensa que não era difícil perceber, ali próximo haviam muitas casas de show. Ainda nervoso ele responde: 

 Si.. Sim senhor. Acho que essa é a melhor solução. Foi mal mesmo, obrigado senhor! 

 Sua namorada está bem? Pergunta o garoto gordo que estava calado até aquele momento. 

   Quando Robson olhou por cima do ombro, percebe o vidro do seu carro aberto. Ana está com a cabeça e seu braço direito para fora da janela acenando. Ainda está grogue e não consegue falar. Sua tentativa de chamar atenção dos rapazes parece muito mais um flerte de uma pessoa bêbada. Por um instante o homem sente um frio na espinha. Pensa rápido, enrijece sua mandíbula escondendo seu nervosismo repentino, esboça um sorriso cínico e grita de onde está: 

– Já vou meu amor! Não se preocupe, os rapazes são gente boa já está resolvido aqui. Ele se volta para os dois e puxa seu celular. 

– Então rapazes, vamos logo com isso né? Eu acho que ela bebeu demais sussurra para os dois garotos.  

   Com muita pressa ele pega o telefone do motorista, tira uma foto da placa e cumprimenta os dois. Antes de dar as costas o rapaz de cabelo lambido que se identificou como Fernando pergunta: 

 

– Amigo, você tem certeza que ela está bem? A gente pode chamar uma ambulância. Ela me parece muito estranha. Talvez tenha batido a cabeça. 

 – Muito gentil Fernando. Mas eu sou médico, não se preocupe Disse Robson em tom amigável já de costas se dirigindo rapidamente para o carro.  

   Fernando achou estranho a pressa do homem, ele e seu amigo seguiram-no até o carro ainda insistindo em chamar alguém. Do lado de fora do carro, Robson encosta Ana com violência no banco com sua mão forte pela janela, abre seu porta luvas e pega sua pistola. Agora visivelmente bravo e com a arma na mão ele se vira para os garotos e sem apontar a arma ele fala em tom bem sério: 

– Olha garotos, já está tudo resolvido. É melhor irem pra casa antes que seus pais descubram que vocês estão dirigindo por bêbados. 

  Ao ver a arma, os garotos deram um passo para trás. Lucas, o gordo que agora estava prestes a ter um ataque cardíaco fala para Fernando: 

– Macho, é melhor a gente ir, bora sair fora – Fernando só confirma com a cabeça ainda boquiaberto. 

 Quase correndo os dois garotos voltam para o carro. Em pé fora do carro, Robson desejou descarregar aquela arma naqueles dois intrometidos quando eles deram as costas. Mas isso chamaria muita atenção, mesmo não existindo nenhum comércio próximo, alguns blocos de apartamentos estavam mais à frente. Melhor terminar o que ele havia começado com a Ana. De uma coisa ele sabia, precisava se livrar do carro urgente. Entrou no seu carro enquanto Fernando saía cantando pneus. Subiu o vidro da janela de Ana que ainda estava grogue. Segurou seu queixo obrigando-a a encará-lo.  

– Quase matei aqueles imbecis por sua causa. Se fizer isso de novo eu prometo te arrastar na pista com suas pernas presas ao carro até sua cabeça virar uma mancha de sangue. 

  Ana sentia a força de sua mão quase quebrando sua mandíbula. A força era tanta que quando ele a soltou, sua mão ainda parecia segurar seu queixo. Robson deu a partida quando ouviu um telefone tocar. O som vinha da porta de Ana, era seu celular. 

 *** 

 – Puta que pariu! Essa rapariga não me atende – Esbravejou Raquel. Mas logo sua raiva cedeu ao medo quando ligou novamente e o celular deu caixa postal. 

 – Cláudio, vamos até a lanchonete! A Ana não me atendeu na primeira chamada e agora tá dando caixa postal. Acho que aconteceu algo. 

 – E você quer ir para onde? – disse Cláudio impaciente. 

 – Vamos para a lanchonete. Por favor! Raquel suplicou juntando as mãos como se fosse fazer uma oração. – Eu sei que ela pode não estar mais lá. Mas só ficarei tranquila se ir. 

 – Tá bom! Vamos logo que eu quero dormir – Cedeu Cláudio.  

   O casal entrou no carro e se dirigiu até a lanchonete que ficava a dezoito quilômetros da casa da Raquel. Já era doze e meia quando o carro estacionou na lanchonete, Raquel não precisou sair do carro para perceber que sua amiga não se encontrava no estabelecimento, de longe se via as mesas quase vazias. Ela olhou sem jeito para seu namorado que lhe retribuiu um olhar de “eu te avisei”. 

 – Tá. Vamos para a casa, pelo menos eu tentei – Falou a garota. 

 Em silêncio, Cláudio desceu a estadual por dois quilômetros para pegar o próximo retorno. De longe os dois perceberam luzes azuis e vermelhas tremeluzentes. Os dois se entreolharam. Ele já sabia a proposta da namorada. 

 – Tá! Vou até lá. 

– Obrigada – Ela respondeu com um olhar grudado no que via mais à frente 

   O carro se aproximou lentamente até o local. A CE040 estava tranquila, exceto pela presença da viatura da polícia e um pálio prata batido no acostamento. Entre as vias da pista existia uma ciclovia emoldurada por um canteiro gramado. Raquel saltou quando o carro parou sem ouvir os protestos do seu namorado que ainda desatava o cinto.  Se aproximou de um policial que conversava com dois garotos. O policial se virou para ela com um olhar inquisidor. Raquel percebeu o carro batido e arfou triste. 

 – Achei que minha amiga tinha se envolvido na batida – Se antecipou a pergunta do policial. 

– Se sua amiga for branca de sarnas no rosto, ela estava sim – Afirma Fernando. 

Raquel gira em torno dos calcanhares e olha para ele atônita – É essa mesma! 

   Vinte minutos se passaram quando os garotos terminaram de relatar o que viram. Raquel também contou o que sabia. O policial observou e fez uma série de perguntas. Passou um rádio para as outras viaturas com a descrição do carro e placa. Ele sabia que era como procurar uma agulha no palheiro, neste instante o suspeito já estaria longe. O policial sabia que não precisaria aguardar vinte e quatro horas para configurar desaparecimento se o indivíduo havia quebrado a sua rotina. Sem falar que o sujeito estava armado, isso já era muito suspeito. Aguiar dispensou todos e anotou os telefones, se soubesse de algo ele ligaria avisando. 

  Raquel acordou 8:45 da manhã com o seu celular chamando. Atendeu sem nem olhar quem era. Era da polícia, Ana fora encontrada, estava desacordada, mas viva. Mas estava com uma cicatriz enorme na altura do estômago e com sinais de abuso sexual. 

FIM

 

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Parte 2/3

Garoto Perdido

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