Felicidade Roubada

Havia um tempo em que existia um pássaro, era um pássaro muito feliz. Estava sempre batendo suas lindas asas alegres. Tinha um penacho amarelo de causar inveja aos outros pássaros do bando. Entretanto sua qualidade mais forte era como ele cantava. Ah! Aquelas canções que deixavam os homens loucos para terem em sua gaiola. Certo dia um dos pássaros do bando que tinha muita inveja dele chamou-o para mostrar um córrego que possuía uma água muito pura. O pássaro provou inocentemente da água, porém a água estava envenenada naquele local. Haviam algumas serpentes mortas e seu veneno se espalhava pela água. O pássaro invejoso abandonou o pássaro cantor à própria sorte. O veneno descia pelo seu bico, passava pela garganta como se fosse uma faca. O pássaro voou com esforço e descansou no galho mais alto que encontrou. A fraqueza e dor tomou conta do corpo da ave que desmaiou.

Horas depois o pássaro se acordou. Já se sentia mais disposto. Lembrou-se do pássaro traidor e se encheu de fúria. Precisava encontrar o seu bando. Dizer a eles o acontecido, como fora traído. Levantou voo e soltou um canto alegre. Qual não foi sua decepção ao ouvir o agouro que acabava de sair de seu bico. De algum modo o veneno não o matara, mas transformou seu lindo canto em um horrível agouro. Uma tristeza imensa se abateu sobre aquele pobre pássaro. Desequilibrou o voo e quase caiu. Haviam roubado sua melhor parte. Como ele seria feliz agora? Como alegraria os outros com seus lindos cantos? Seu coração se apertava. Desejava morrer! Voou a esmo ignorando o caminho de volta do bando. Sua felicidade havia sido roubada. Desejou voltar ao córrego e tomar mais daquela água, porém não sabia mais onde esteva. Queria fazer qualquer coisa para que aquela tristeza parasse. Nada mais seria o mesmo. A pequena ave não estava disposta a se acostumar com a aquela sua nova realidade. Parou de bater as asas e começou uma queda vertiginosa. A cada fração de segundo o chão se aproximava. Fechou os olhos. Esqueceu daquela felicidade que um dia habitou seu coração. Agora essa felicidade era estrangeira.

Antes que pudesse tocar o chão, uma ave fêmea do seu bando deu um rasante prendendo o pássaro a suas garras e impedindo sua queda mortal. Essa foi a última vez que aquele pássaro foi visto. Fora levado pela fêmea para algum lugar desconhecido. Reza a lenda que se apaixonou pela sua heroína e noivou com ela.  Dizem que nas noites quentes ouve-se seu agouro no horizonte. E como forma de agradecimento os homens respondem: “Viva os noivos!”.

 

Garoto Perdido

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