Garota do Colégio

   Seis e quarenta! Ele acorda cedo. Toma a sua farinha láctea na cama. Se espreguiça e corre para o banho. A água gelada o faz despertar. Ao sair do banho, vê seu irmão dormindo. Sente uma inveja, tem vontade de dormir um pouco mais. Porém é mais velho. Não deseja tomar tempo de sua mãe, muito menos chegar tarde ao colégio. Sai sem esperar o irmão que ainda dormindo está sendo arrumado pela mãe. Ele é não precisa de ajudinha da mãe.

   Ao chegar no colégio se depara com ela. A garota do colégio! Como era ela linda! Seus cabelos loiros na altura do queixo com as pontas avermelhadas, sua pele era branca como as nuvens do céu, olhos verdes deixavam seu olhar mais sedutor. Seu ar era angelical, sua boca convidativa carregava um lindo sorriso. Seu estilo era gótico, ela vestindo a camisa do Slipkinot. Como ela era diferente de todas as garotas do colégio. Deve ser por isso que ela interessou o garoto. Ele ficou sentado nas mesas de concreto do pátio. Ela da janela do primeiro andar estava alheia a presença dele. Ela parecia tanto uma princesa daquela forma que assim como a Rapunzel, ele poderia escalar nas suas tranças para chegar até a amada. Foi divertido imagina isso. Poderia ter falado com ela, entretanto isso seria totalmente insano para o seu comportamento tímido. Ele era diferente dos outros caras de dezesseis anos. Ela era mais nova, de uma classe inferior que a dele o que dificultava muito para conhece-la. Não poderiam fazer trabalhos de equipe ou fazer suas tarefas de casa como acontecia nos filmes que ele assistia nas sessões da tarde.

Os dias se passavam, a cena se repetia todos os dias. Ele a via a distância, estava apaixonado. Mas guardava para si aquele amor Platônico. Ninguém sabia da sua paixão, exceto seu amigo mais próximo. Na aula, o rapaz sentava-se perto da porta para vê-la no corredor caso ela passasse para ir ao banheiro ou tomar água. O que raramente acontecia. O intervalo ele a procurava só para admirar. Estava sempre a contempla-la. Poderia traduzir a sensação de Tom Jobim ao escrever Garota de Ipanema. Ela era a sua garota do colégio. A coisa mais linda que ele já viu passar.

   Apesar de amar as férias, quando esta chegava ele ficava com saudades da garota. Ansiava para que as aulas começassem. O ano passava e com ele vinha o pensamento de que no final do ano ela poderia mudar de colégio. Ele só sabia o nome dela. Estava perdidamente apaixonado e só tinha falado com ela uma vez na fila da cantina. Nesse dia pensou em puxar mais assunto, perguntar as horas. Mas as amigas dela chegaram e o estudante tímido perdeu todo o resquício de coragem que tinha. Se sentia péssimo por não compartilhar aquele sentimento tão bonito. A garota provavelmente não sabia nem seu nome. Aquele romance era impossível. “Vai ver que é melhor assim. Ela não iria me querer mesmo. Ela era tão diferente e eu igual a todo mundo.”. Pensava nas noites antes de dormir.

   Em uma certa amanhã ensolarada o rapaz tomou uma decisão. Queria deixar de ser o figurante da vida daquela moça. Quem sabe não seria o protagonista de uma grande história de amor? O garoto conseguiu por intermédio de um amigo que estudava na mesma sala que o irmão da sua amada o telefone da residência. Já era alguma coisa, pelo menos teria coragem de falar com ela ao telefone. Porém o que ele iria dizer? Seu nome? Como se ela soubesse quem seria. E depois disso? Falaria o que? Que ama ela e todos os dias ia para o colégio no intuito de admira-la? E se ela tivesse namorado? O adolescente olhava para aquele número como se fossem números premiados da loteria. Como se aquilo fosse capaz de mudar sua vida. Sua chance de ser feliz.

   Num ato de coragem extrema discou o número e pôs-se a roer as unhas enquanto o telefone chamava. Ele se apresentaria e caso ela não o reconhecesse, dependendo do rumo da conversa ele se revelaria no colégio tipo: “Sou o cara da ligação”. Jamais pensou em dizer que era admirador secreto. Isso seria muito infantil e ele perderia ponto. Tinha que ser corajoso ou pelo menos parecer. O pai da moça atende. “Alo? ”. Sentiu um arrepio na espinha. Pensou em desligar. Respirou fundo. “Boa noite! Gostaria de falar com a.…”. Perguntou. Ele pode ser seu futuro sogro. Queria passar uma boa impressão sendo educado. Mas ela não estava. Ficou aliviado de uma certa forma.

    Dias passaram e ele tornou a ligar. Estava a ponto de ter um ataque quando ouviu a voz masculina do outro lado dizendo que a iria chamar. Sentiu um alívio por não ter perguntado quem era. O que ele iria dizer? “E aí gata, vamos dar um rolé e ser feliz?” Pensou! “Alô? Quem é? ”. Perguntou aquela linda voz. “Boa noite. Você provavelmente não me conhece, mas eu estudo no seu colégio e… ”. Ela interrompeu: “Quem é? Como conseguiu meu telefone? ”. Já meio sem jeito o rapaz continuou: “Sou o fulano do segundo ano. ”. Falou uma breve descrição até que ela o reconheceu. “humm. Quem te deu meu telefone?” Tornou a indagar. O rapaz respondeu: “Me desculpe, mas não conto nem sob tortura. Queria na verdade te conhecer e não sabia como. Essa foi à maneira que encontrei. Desculpe mais uma vez se parece meio doido. Porém não sabia mesmo como faria para te conhecer. Te acho muito bonita”. Ela deu uma risada que o tranquilizou e falou: “Menino você poderia ter falado comigo no colégio. Mas gostei da ligação.”. Depois disso a conversa passou voando. Frequentemente ele tornava a ligar. Quando a via no colégio já acenava para ela. Dizia um “oi”. As coisas estavam mudando. A cada ligação ela parecia mais interessada. Quando ele passava um tempo sem ligar ela o questionava no colégio o porquê.

   Os amigos do garoto se perguntavam de onde ele a conhecia. Porém ele se limitava a dizer somente no seu caderno. Para que aquela história não morresse com o tempo. O tempo passou e ele saiu do colégio. Entretanto as ligações não pararam e às vezes ele ia ao colégio “rever” os velhos amigos no intervalo e “consequentemente” falar com ela. Já estava mais do que na hora do garoto chama-la para sair. Mas tinha medo de perder o pouco que tinha conseguido. Porém não queria ser somente amigo daquela moça. Ela já havia convidado ela para sair. Mas garota já havia desmarcado umas três vezes o convite para o cinema. Ele entendeu mais uma recusa como um “não quero nada com você! ” e deixou de lado aquele romance.

   Até que um dia ela o chamou para uma festa que iria acontecer no colégio. Como ele já não estudava lá, ficou meio retraído de ir sozinho e recusou o convite. Ele fixou os olhos no teto e pensando: “Você é assim pra mim! Meu início, meio e fim. No momento em que vi você sorrir foi quando eu conheci a felicidade em si.”. O destino parecia estar do seu lado, ou não. Colocou naquele dia um amigo do colégio disposto a ir naquela festa com ele. Como foi em cima da hora ele resolveu não ligar para a garota. Faria uma surpresa. Porém ao chegar lá, o garoto foi surpreendido. Ela estava com outro! Foi como um banho de água fria das manhãs que ele ia ao colégio. “Devia ter avisado que viria”. Mas agora era tarde. Sentiu o mundo girar em torno de si, o problema é que ele não tinha bebido. Pensou em ir embora naquele momento. Suas esperanças de enfim ficar com a garota foram trocadas por um sentimento de frustração. Preferiu não olhar aquela trágica cena. Como se nada tivesse acontecido tentou curtir a festa. Ele pensou: “Delicadeza e doçura não faz muito sucesso. Essas mulheres só fazem me esnobar, cadê o meu cachorro? Pelo menos não vai me abandonar”.

   Depois de um tempo, ainda na festa ela apareceu ao seu lado. Porém o rapaz não tinha mais clima e como se ela fosse uma estranha ele mudou de lugar. Ela o seguiu, mas o rapaz fez de conta que não viu. Seus amigos comentaram que ela não parava de olhar para ele. Sua vontade era de dizer: “Não perde tempo hein? Cadê o rapaz que você estava beijando? ”. Depois de um tempo a menina se foi. Após esse dia, a viu poucas vezes nas festas por aí. Nunca mais voltou a falar com ela e nem ela se arriscou a falar algo. As ligações ficaram registradas nas páginas do seu caderno guardado até hoje com muito esmero. Pensando bem, histórias de amor que deu certo não fazem tanto sucesso. Hoje ele se pergunta o que mudaria se tudo tivesse dado certo. Mas se foi divertido, hoje já não faz sentido.

Postado dia 7 de outubro de 2010. Editado 11/09/16

Garoto Perdido

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