Voo 447

  Alice afundou na poltrona do avião Air France voo 447. Colocou os fones no ouvido e aumentou o volume do seu smartphone. Após a decolagem, ela ainda observou as casas bem distantes e como o mar era lindo. Pode contemplar as nuvens e o céu rosado do fim de tarde. Depois agarrou no sono. Algumas horas depois a garota é acordada com  um baque. Olhou ao seu redor meio desorientada do sono. O avião parecia sacudir mais forte. As crianças começaram a chorar, mulheres gritavam. De repente máscaras caem do teto. O piloto informa pelo equipamento de som que tudo se trata de uma forte turbulência. Alice sente o coração disparar. A garota cheia de sonhos percebe pela janela que uma das turbinas do avião esta fumaçando. O avião está perdendo altura lentamente. Ela começa a entender o que realmente se passa. O avião vai cair. O reflexo do vidro da janela lhe mostra seu semblante apavorado.

   Parecia estar em um pesadelo. Realmente ela estava perto do fim. Isso é real! As lágrimas escorrem espontaneamente. Ela estava imóvel caindo de uma altura imensurável. Se achava muito nova para morrer assim. E seus pais? Ir sem dar adeus? Sem dizer ao menos obrigado? Teve tantas oportunidades de dizer isso. Como foi tola. Seu namorado? Queria dizer pela ultima vez “Eu te amo”. Pedir perdão pelas vezes em que foi egoísta, das vezes que se fez indiferente com sua presença. As mãos de Alice seguravam com todas as forças o cinto que a prendia no banco. Pensou nas coisas que fez, que devia ter feito, devia ter dito. Nos seus medos e timidez que a fez perder grandes oportunidades. Tudo parecia importar muito nesses últimos minutos. E Deus? Nunca pareceu se importar, nem conhecê-lo. No entanto, pedia misericórdia. Implorar alguma chance. Lembrou até do seu hamster. Quem iria alimentá-lo? Ao seu redor algumas pessoas começavam a orar. Pela janela enxergava o mar cada vez mais próximo.

   “Será que vou sentir muita dor?” Pensou. Ela chora silenciosamente ainda lembrando-se das coisas que devia ter feito ou dito. Podia ver o mar negro prestes a engolir o avião. Ativou a mensagem de voz do seu aplicativo de mensagens, disse em palavras chorosas: “Meus país, meu amor, minha família. Às vezes temos que nos despedir rápido para ir à faculdade porque sabemos que mais tarde voltaremos. Hoje pai, eu mal falei com o senhor, no entanto sei que dessa vez não retornarei. Meu amor se soubesse como te amo e o fato de te perder nunca pareceu me importunar. E agora, quando penso que meus olhos não encontrarão os seus. Já estou morrendo de saudades. Mãe considere essa gravação minha caixa preta, desculpa pelas vezes em que fui grosseira. A senhora sempre foi um amor. Meu Deus! Obrigado pela chance de poder refletir, muitos morrem subitamente sem ao menos se despedir. Faça com que essa gravação chegue até eles. Fui leviana nessa vida, soberba, fútil. Fico imaginando se minha vida seria diferente se eu pudesse recomeçar. Perdoe-me. Não quero perder você nesses últimos momentos. Sei que estar com você, mesmo que seja no inferno é estar no paraíso. Tem misericórdia.”. Alice suspirou seu ultimo ar de vida. Ainda pôde ver a confirmação de sua mensagem enviada. Após isso,  o avião se chocou fortemente no mar não deixando nenhum sobrevivente naquele 31 de maio de 2010 próximo ao litoral brasileiro.

Essa história é ficção e uma homenagem aos familiares que tiveram uma perda inestimável. Essa história poderia ser nossa. E você? Tem levado a vida que sonha? “E o senhor me livrará de toda má obra, e guardar-me-á para seu reino celestial;” 2 Timóteo 4,18

Garoto Perdido

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