– Boa noite – Disse a senhorinha atrás de mim na fila do supermercado.
– Boa noite – Abri um sorriso amarelo e dei passagem para que ela passasse. A senhora portava uma cesta com dezenas de legumes, biscoito integral e chá. Tentei esconder a impaciência de esperar mais um pouco por ter cedido a vez.
– Obrigada! – Ela falou dando um sorriso.
Levantei os olhos do celular que estava na minha mão, olhei para ela e assenti com um sorriso. Tomei um susto! O rosto da senhora era o da minha falecida mãe. Franzi a testa novamente e agora pude ver um rosto muito parecido. Ela não pareceu notar meu espanto. – Por nada – Balbuciei ainda olhando para aqueles familiares olhos castanhos.
– Você se parece muito com um filho que perdi – Ela puxou assunto enquanto descarregava os alimentos sobre a esteira rolante do caixa. – Mas já faz tempo. Ele faleceu muito novo. Mas tinha o seu porte.
Abri a boca e fechei sem dizer uma palavra. Estava pasmado com aquela situação. Será que em algum universo uma mãe tinha perdido um filho e um filho havia perdido uma mãe e eles se encontraram em corpos diferentes numa fila de supermercado?
Ela me olhou aguardando uma resposta. Eu falei apenas: – Seu filho devia ser um cara legal – Minha vontade nesse momento era de dar um abraço apertado e dizer em prantos como eu estava com saudades da minha mãe.
Minha distração foi interrompida pelo bipe dos itens passando no caixa. Já estava no último. A senhora estendeu uma nota de cinquenta, recebeu umas moedas e se virou para mim: – Sua mãe está orgulhosa de você! Ela também sente saudades, fique tranquilo que ela está bem.
Engoli em seco ainda processando aquelas palavras. Olhei sobre o ombro para me certificar que ela falava comigo. Senti uma vertigem repentina e me apoiei no carrinho de compras.
– Moço? O senhor está bem? – A caixa do supermercado olhava para mim assustada. – S, Sim, sim – Respondi sem muita confiança.
Ao olhar para frente não vi mais a senhora, ela já havia partido.
– Moça, você viu para onde aquela senhora foi?
– Que senhora? – A Caixa me olhou atônita.
– A senhora que acabou de pagar as compras, a que eu deixei passar na minha frente.
– Não senhor, na sua frente estava um casal. Já fazia um minuto que eu chamo o senhor, mas o senhor parecia hipnotizado. O senhor está bem mesmo?
Garoto Perdido
Bonito texto.
Gostei, belo artigo.
Amei o texto. Em um momento achei que era um conto espírita, mas me dei conta que é uma forma de crônica que lida ora com a nostalgia, ora com o metafísico, com o suspense. Deveria fazer um livro.
Obrigado!